SÃO PAULO - Nos últimos 30 anos, a violência no país praticamente
dizimou uma cidade inteira de grande porte. Cerca de 1,1 milhão de
pessoas foram vítimas de homicídio. A média das últimas três décadas é
de quatro brasileiros assassinados por hora. Só em 2010, foram mortas
50 mil pessoas, numa contabilidade de 137 assassinatos por dia. É mais
que um massacre do Carandiru diariamente, quando 111 presos perderam a
vida no confronto com a polícia. Uma pessoa foi morta a cada dez
minutos no Brasil no ano passado.
- Foram mortas exatamente 1.091.125 pessoas. Para se ter uma ideia da
tragédia, só 13 cidades brasileiras têm uma população que ultrapassa 1
milhão. Se matou no Brasil muito mais gente do que em países onde há
conflito armado - disse Júlio Waiselfisz, responsável pela pesquisa
que consta do Mapa da Violência 2012, elaborado e divulgado na manhã
desta quarta-feira pelo Instituto Sagari, em São Paulo.
Com dados compilados desde 1980, o estudo revela o avanço da violência
ano a ano. Se 30 anos atrás 13.910 pessoas foram vítimas de homicídio
no país, em 2010, o número de mortes chegou a 49.932. Foi um
crescimento de 258%. A população também aumentou no período, mas não
na mesma velocidade. Passou de 119 milhões para 190 milhões de
habitantes, registrando crescimento de 74%.
Em relação a outros países, a situação é alarmante. Enquanto no Brasil
1,1 milhão de pessoas foram mortas nos últimos 30 anos, a guerra civil
da Guatemala, que durou 24 anos, registrou 400 mil mortes. A disputa
religiosa entre Israel e Palestina, entre 1947 e 2000, foi marcada
pelo assassinato de 125 mil pessoas.
Desde 1980, a taxa de homicídio para cada 100 mil habitantes também
deu um salto considerável, passando de 11,7 para 26,2. Segundo o
estudo, na última década foi observado crescimento rápido das taxas
até 2003, quedas relevantes até 2005 e, a partir deste ano, equilíbrio
instável, com cerca de 26 homicídios para cada 100 mil habitantes. A
década fechou com taxa de 26,2 homicídios, semelhante ao verificado em
2000: 26,7.
O estudo ainda mostra que 17 estados que tinham as menores taxas do
país no ano 2000 viram seus índices aumentar. Alagoas é o estado que
ocupa a primeira posição no ranking dos mais violentos. Passou da
décima-primeira colocação dez anos atrás, com taxa de 25,6 mortes por
100 mil habitantes, para o topo do pódio com a marca mais preocupante:
66,8.
Dois estados fizeram o caminho inverso. Enquanto, na última década,
São Paulo diminuiu a taxa de homicídio de 42,2 para 13,9 por 100 mil
habitantes, (4º para 25ª lugar no ranking), o Rio de Janeiro reduziu a
taxa 51,0 para 26,2 (passou de 2º para 17º).
- Três fatores explicam a redução das taxas de homicídios em alguns
lugares: campanha do desarmamento, investimento em segurança pública e
políticas estaduais - disse Waiselfisz.
Num recorte feito por raça e cor, o estudo mostra que enquanto pessoas
brancas estão morrendo cade vez menos vítimas de homícidios, boletins
de ocorrências registram elevação de assassinatos contra os negros. Em
relação aos brancos, diz o mapa: foram assassinados 18.852, em 2002,
15.753 (2006) e 13.668 (2010). Sobre os negros, a situação é mais
crítica: foram mortos 26.952 (2002), 29.925 (2006) e 33.264 (2010).
O documento revela ainda que o Espírito Santo é o estado que registra
o maior número de homicídios de mulheres: 9,4 para cada 100 mil
habitantes, segundo os dados de 2010. Alagoas está em segundo lugar,
enquanto Rio de Janeiro e São Paulo ocupam, respectivamente, 25ª e 26ª
colocações.
Em relação aos assassinatos de jovens, entre 15 e 24 anos de idade, os
números também são alarmantes. Mais de 201 mil pessoas nessa situação
foram mortas em 2010. Na comparação com 2000, o mapa registrou
crescimento de 11,1% de homicídios contra jovens.
Agência O Globo
Por Flávio Freire (flavio@sp.oglobo.com.br)
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